27 julho 2009

O Lobo da Estepe



Desculpem a falta de postagem, mas eu estou provisariamente sem net em casa. O que é bom em certo aspecto, porque em um mês li 5 livros, escrevi 3 artigos, formatei 4 e-books e escrevi o capítulo do meu pretenso livro que estava parado há algum tempo.

Um dos livros que eu li, e que há tempos queria ler, foi O Lobo da Estepe, clássico do escritor alemão Herman Hesse. Apesar do final ser otimista demais pra mim, o livro como um todo é muito bom e vale o renome que tem. Aproveito pra transcrever aí embaixo uma passagem do livro, uma fala da Hermínia para o Harry, que me chamou muito a atenção e diz muito de como me sinto perante o mundo: "pretendia grandes feitos, mas descobri que o mundo não passa de um salão burguês". Espero que lhes façam refletir, como me fez. E, de preferência, leiam o livro todo.

"Você, Harry, sempre foi um artista e um pensador, um homem cheio de fé e de alegria, sempre no encalço do grande e do eterno, nunca se contentando com o bonito e o mesquinho. Mas quanto mais despertado pela vida e conduzido para dentro de si mesmo, tanto maior se tornou sua necessidade, tanto mais fundo mergulhou no sofrimento, na timidez, no desespero; mergulhou até o pescoço, e tudo o que no passado conheceu, amou e venerou como belo e santo, toda a sua fé de então nos homens e em nosso elevado destino, nada pode ajudá-lo, tudo perdeu o valor e se fez em pedaços. Sua fé não encontrou mais ar que respirasse. E a morte por asfixia é uma morte muito dura. Não é verdade, Harry? Não é esse o seu destino? [...] Você trazia no íntimo uma imagem da vida, uma fé, uma exigência; estava disposto a feitos, a sofrimentos e sacrifícios, e logo aos poucos notou que o mundo não lhe pedia nenhuma ação, nenhum sacrifício nem algo semelhante; que a vida não é nenhum poema épico, com rasgos de heróis e coisas parecidas, mas um salão burguês, no qual se vive inteiramente feliz com a comida e a bebida, o café e o tricô, o jogo de cartas e a música de rádio. E quem aspira a outra coisa e traz em si o heróico e o belo, veneração pelos grandes poetas ou a veneração pelos santos, não passa de um louco ou de um Quixote." (HESSE, 1975, p. 135-136).

HESSE, H. O Lobo da Estepe. 10 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1975.

4 comentários:

Anônimo disse...

Esse livro passa vinagre e sal nas nossas feridas... Preciso ler novamente!

Bruna disse...

Os romances de Hesse perturbam inquestionavelmente. ''Demian'', obra anterior a citada,é uma leitura indispensável para uma compreensão mais densa do ''Lobo da Estepe''( alguns críticos apontam que a personagem título seja uma antecipação de Haller).Em relação ao lobo da estepe,certa vez, ao ler ''A terceira margem do rio'', conto de Guimarães Rosa, foi-me impossível não me recordar de Harry, pois ambas as personagens, ao preterir os valores estabelecidos,são postos a uma terceira margem pelos homens de seu tempo...

Mariana disse...

Já fazia parte das minhas próximas leituras... que texto maravilhoso!

Cristina Jeickel disse...

Hesse nos faz pensar que há em cada um de nós muito mais almas e conciências do que podemos imaginar e como o meio onde vivemos pode fazer com que sobressaia uma delas.