Uma das perguntas que o estudante de filosofia mais ouve é: porque você faz Filosofia? Apesar de eu gostar da resposta de uma amiga minha ("Pra enfiar no seu cu"), outra é possível: pra ficar drogado. E nem é pelo viés físico, com drogas ilícitas, mas pelo mundo das drogas lícitas do pensamento puro. Sim, porque tem filósofo que te chapa, literalmente, com o seu pensamento. Veja, por exemplo, a idéia de realidade em Hegel:
Aquilo que é individualizado, ou seja, que existe concretamente, é dependente de outro ser. É o que ele entende por aparência. E o que é aparente é diferente do que é real, visto que a realidade tem o ser em si, sendo completamente independente de outro ser. No entanto, o real não existe, ele é. Em outras palavras: o real não tem existência, tem ser. O que existe, existe enquanto particular. O universal existe apenas enquanto idéia, conceito, logo não tem existência. E é aí que vem o nó da coisa: o individual, existente, procede do universal, que não existe. Para quem estava tão disposto a fazer um sistema filosófico de acordo com aquilo que não seja inaceitável pela razão, parece que Hegel deu uma boa tropeçada no meio do caminho, não?
Pareceria sim, se não entendêssemos o pensamento de Hegel. Por mais estranho que nos possa parecer, neste ponto o pensador alemão está utilizando da lógica, a lógica idealista. E para entender isso, é preciso entender sua idéia a respeito do conhecimento.
Para Hegel não existe o inconhecível, pois para ele ser e conhecer são a mesma coisa. Tudo que é, é passível de ser conhecido. Os universais são objetivos, porque os objetos os quais eles compõem são objetivos. Uma bola de pingue-pongue seria uma soma de universais (leveza, rotundidade, alvura, sonoridade, etc). Mas a bola teria a existência, e não os universais, que são abstrações.
Seria interessante traçarmos aqui um paralelo com a física quântica. Nesta ciência, as “partículas” que formam as coisas materiais não existem materialmente. Chega a um ponto em que a matéria é energia pura. Além do fato dos átomos serem 99.99999% vazios, segundo a ciência atual. E, mesmo assim, o mundo em que vivemos é sólido, e ninguém consegue atravessar uma parede, por exemplo. Isso continua sendo algo que intriga os cientistas, que ainda não tem muito como explicar o fenômeno.
Hegel diria que a única coisa que conhecemos dos objetos, ou seja, dos particulares, são os universais, os conceitos. Isso porque, para o filósofo, “Ser significa ser para a consciência”. Um objeto, um particular só o é objeto para um indivíduo. Fora disto, seria sem sentido, sem significado. Com tudo isso, os universais passam a ser objetivos, e o mundo conhecível. E também fica solucionado, pelo menos dentro da lógica hegeliana idealista, a aparente ilogicidade da questão do existente proceder de algo que não existe.
É preciso ressaltar também que essa prioridade cronológica hegeliana é puramente lógica. Ele não está querendo dizer que, antes de existir a matéria e o Universo como o conhecemos, existiam em algum lugar os universais, do qual procedeu todo o mundo conhecido. Isso seria Platão com seu Mundo das Idéias. Para ele, é uma questão hierárquica dentro de seu pensamento lógico. Por isso que as criticas a respeito dessa questão, de que o indivíduo só forma o conceito universal após a experiência com os particulares, não cabe aqui. Pois, novamente, não se trata de uma prioridade cronológica, mas sim lógica. Independente da experiência do indivíduo, o conceito universal já existe, pois é de seu conjunto que são compostos os objetos particulares.
Isso é algo difícil de compreender, e talvez por isso o idealismo é muito criticado. É claro que, hoje em dia, até a própria lógica é criticada e desacreditada, sendo vista como muito limitada em si mesma. Mas é importante compreendermos que, com a plena confiança na razão, o processo teórico dos idealistas é puramente racional e lógico, mental. Se entendermos isso, conseguiremos compreender o seu pensamento e veremos que ele é válido e tem lógica, por mais que discordemos de seus princípios lógicos, racionais e mentais.
Para finalizar essa questão a cerca da realidade do mundo, como já constava no idealismo platônico, no pensamento de Hegel também há a questão a aparência. E ela existe no sentido de que o mundo é uma manifestação do único real, ou seja, é a aparência de alguma outra coisa. No caso de Hegel, ele é a aparência dos universais.
Pra que drogas quando existe a Filosofia?
Aquilo que é individualizado, ou seja, que existe concretamente, é dependente de outro ser. É o que ele entende por aparência. E o que é aparente é diferente do que é real, visto que a realidade tem o ser em si, sendo completamente independente de outro ser. No entanto, o real não existe, ele é. Em outras palavras: o real não tem existência, tem ser. O que existe, existe enquanto particular. O universal existe apenas enquanto idéia, conceito, logo não tem existência. E é aí que vem o nó da coisa: o individual, existente, procede do universal, que não existe. Para quem estava tão disposto a fazer um sistema filosófico de acordo com aquilo que não seja inaceitável pela razão, parece que Hegel deu uma boa tropeçada no meio do caminho, não?
Pareceria sim, se não entendêssemos o pensamento de Hegel. Por mais estranho que nos possa parecer, neste ponto o pensador alemão está utilizando da lógica, a lógica idealista. E para entender isso, é preciso entender sua idéia a respeito do conhecimento.
Para Hegel não existe o inconhecível, pois para ele ser e conhecer são a mesma coisa. Tudo que é, é passível de ser conhecido. Os universais são objetivos, porque os objetos os quais eles compõem são objetivos. Uma bola de pingue-pongue seria uma soma de universais (leveza, rotundidade, alvura, sonoridade, etc). Mas a bola teria a existência, e não os universais, que são abstrações.
Seria interessante traçarmos aqui um paralelo com a física quântica. Nesta ciência, as “partículas” que formam as coisas materiais não existem materialmente. Chega a um ponto em que a matéria é energia pura. Além do fato dos átomos serem 99.99999% vazios, segundo a ciência atual. E, mesmo assim, o mundo em que vivemos é sólido, e ninguém consegue atravessar uma parede, por exemplo. Isso continua sendo algo que intriga os cientistas, que ainda não tem muito como explicar o fenômeno.
Hegel diria que a única coisa que conhecemos dos objetos, ou seja, dos particulares, são os universais, os conceitos. Isso porque, para o filósofo, “Ser significa ser para a consciência”. Um objeto, um particular só o é objeto para um indivíduo. Fora disto, seria sem sentido, sem significado. Com tudo isso, os universais passam a ser objetivos, e o mundo conhecível. E também fica solucionado, pelo menos dentro da lógica hegeliana idealista, a aparente ilogicidade da questão do existente proceder de algo que não existe.
É preciso ressaltar também que essa prioridade cronológica hegeliana é puramente lógica. Ele não está querendo dizer que, antes de existir a matéria e o Universo como o conhecemos, existiam em algum lugar os universais, do qual procedeu todo o mundo conhecido. Isso seria Platão com seu Mundo das Idéias. Para ele, é uma questão hierárquica dentro de seu pensamento lógico. Por isso que as criticas a respeito dessa questão, de que o indivíduo só forma o conceito universal após a experiência com os particulares, não cabe aqui. Pois, novamente, não se trata de uma prioridade cronológica, mas sim lógica. Independente da experiência do indivíduo, o conceito universal já existe, pois é de seu conjunto que são compostos os objetos particulares.
Isso é algo difícil de compreender, e talvez por isso o idealismo é muito criticado. É claro que, hoje em dia, até a própria lógica é criticada e desacreditada, sendo vista como muito limitada em si mesma. Mas é importante compreendermos que, com a plena confiança na razão, o processo teórico dos idealistas é puramente racional e lógico, mental. Se entendermos isso, conseguiremos compreender o seu pensamento e veremos que ele é válido e tem lógica, por mais que discordemos de seus princípios lógicos, racionais e mentais.
Para finalizar essa questão a cerca da realidade do mundo, como já constava no idealismo platônico, no pensamento de Hegel também há a questão a aparência. E ela existe no sentido de que o mundo é uma manifestação do único real, ou seja, é a aparência de alguma outra coisa. No caso de Hegel, ele é a aparência dos universais.
Pra que drogas quando existe a Filosofia?
4 comentários:
"Quando você está de pé sobre o solo, na Terra, está sujeito a forças eletromagnéticas: os elétrons e prótons nas vizinhanças dos seus pés exercem uma repulsão sobre estes precisamente suficiente para superar a gravitação da Terra. É isso o que impede que você caia pela Terra adentro, pois ela, por mais sólida que pareça, é principalmente constituída de espaço vazio" (ABC da relatividade - Bertrand Russell) Aí está a explicação de o porquê não conseguimos atravesar a parede.
Se drogar com um copo d'água...
Das ist die Philosophie!!
Picco, a questão que eu quis colocar com o exemplo que eu citei da parede não é esta, "puramente científica", mas sim a problemática no salto que se dá entre o ontológico e o imanente. Como foi apenas uma ilustração, um paralelo, não deve ser tomado literalmente. Há, é claro, a explicação estritamente científica para o fênomeno. O que os cientistas não explicam (nem os filósofos da ciência) é como a "realidade" muda de alg totalmente afísico, para algo físico e sólido. E eu digo "não explicam" no sentido filosófico, não científico (que, em tese, é mais limitado que o filosófico).
gostei da sua leitura...
vale um 10 na prova de História da Filosofia sobre Hegel...rs...
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