03 julho 2009

Revendo a política de Aristóteles



Caro leitor, você já parou para pensar no que é a política? Aposto que muitos chegam a inevitável conclusão de que é uma forma de ganhar dinheiro fácil e se embriagar de um poder elitista. Infelizmente essa imagem é apenas reflexo do que a política na contemporaneidade tem se tornado, exponenciada principalmente pelos diversos escândalos que nossos ilustres representantes tem demonstrado cotidianamente.

O filósofo grego Aristóteles em sua memorável obra intitulada Política, destaca que o homem é um animal político*, ou seja, o homem possui uma essência que o inclina a buscar o bem, e a forma mais elevada de atingir este fim é através do Estado, onde o bem se consolida nas maiores proporções e excelências possíveis*. Contudo, estas belas palavras fogem totalmente a nossa realidade, até porque, o filósofo (que viveu por volta de 350 anos antes de Cristo) vivia em uma sociedade onde nem todos os seres humanos eram dignos de seres nomeados com o título de cidadão.

Ao contrário dos tempos do filósofo grego, hoje é bem mais fácil ser cidadão. O problema realmente consiste em como exercer a cidadania. Infelizmente grande parte das pessoas se preocupa muito mais com o último namorado da atriz famosa da televisão, e permanece apática aos projetos e planos de governo dos representantes da república.

O sociólogo polonês Zygmunt Bauman observa que vivemos o regime político-econômico da incerteza. As pessoas a cada dia que se passa olham para a política com desdém, opiniões construídas por ideologias que propagam à população idéias de que a política é algo sujo, o que abre margem para uma vida cada vez mais individualizada, voltada para a satisfação do ego e desinteresse a sociedade e a condição do outro.

Maioria silenciosa é a definição que o pensador francês Jean Baudrillard atribui à massa que compõe a grande parcela da população “apolítica” que aceita e acredita em tudo que é imposto. “Simplesmente não há significado social para dar força a um significante político”**, ou em outras palavras, não temos significados e nem autonomia para organizar uma sociedade política. Os políticos, como bons observadores, investem muito mais em mecanismos publicitários do que em idéias novas e inteligentes, consecutivamente as propostas políticas se tornam espetáculos que despertam comoção, riso, alegria, felicidade, etc.

Gostaria de terminar esse pequeno texto com um parecer um pouco mais positivo, o que é muito difícil, pois enquanto os cidadãos se portam como público e os políticos como atores, o verdadeiro sentido da política - possibilitar o bem comum a toda sociedade – acaba sendo uma triste lembrança dos longínquos tempos de Aristóteles.

*Aristóteles. Política. São Paulo: Nova cultural, 1999.

**Baudrillard, J. À sombra das maiorias silenciosas. Brasília: Brasiliense, 1985

Um comentário:

Luiz. disse...

Quando se tem 17 anos, como eu, e seu assunto mais constante com os colegas de sala é filosofia ou política, se é muito mal visto pela maioria vigente das pessoas da idade...
Não só o último namorado da atriz, mas também o último namorada da menina da outra classe também são bastante importantes. Pois é, acontece. É torcer para que, como se acredita, sejam os de cabeça aberta e ideia formada a exercerem mudanças.