23 março 2009

A inocência de Marx


Karl Marx, o anunciador oficial do socialismo e do comunismo (que são coisas diferentes, apesar da maioria confundir) é, sem dúvida alguma, o pensador político mais adorado de todos os tempos, especialmente pelos estudantes universitários (exceto os do Mackenzie, é claro, e algumas outras excessões). Eu não me incluo nesses que o adoram e, de fato, o que menos gosto na teoria de Marx são os marxistas - exatamente porque a grande maioria a) não leu Marx; b) leu e não entendeu; c) não leu e não entendeu d) leu, entendeu e acha-o o suprassumo do pensamento político (sem falha alguma). Não que ele não tenha sido importante para o pensamento político, muito pelo contrário. Mas eu tenho algumas ressalvas com seu pensamento.

Enquanto sua crítica ao sistema capitalismo, não tenho dúvida alguma que tenha sido uma das melhores já feitas, se não a melhor. Ele conseguiu enxergar com brilhantismo o todo do processo, (ao menos, em como ele ocorria em sua época) o que o levou a fazer muitas predições, como o próprio homem se tornando objeto, sendo manipulado por um sistema onde o que importa é o lucro, dentre outras coisas.

No seu estudo do capitalismo, ele conseguiu visualizar a corrupção no caráter do humano, como ele é suscetível ao poder (no caso, sendo simbolizado pelo dinheiro) e extremamente manipulável. No entanto, ao construir seu modelo de sociedade de transição, a sociedade socialista, onde a base da pirâmide (os proletários) tomariam o poder, nascendo então a "ditadura do proletariado", ele não levou em consideração essas características próprias do ser humano. Ele não considerou que o proletariado iria corromper-se ao tomar o poder em suas mãos, e não quisesse mais partir para o comunismo, a ausência total do Estado.

O que eu tenho impressão ao ler Marx é que ele não concordava com o capitalismo, acreditava que o socialismo poderia ser "menos pior" que o primeiro, mas ainda assim não era bom, e o comunismo seria o suprassumo da ideologia política. A ideologia perfeita. Mas ele não sabia como conseguir essa perfeição. Ele formulou o Estado socialista, como ele deveria ser e agir, mas não conseguiu pensar em uma forma de transição real. Uma sociedade comunista, então, ele nem conseguiu pensar em como seria de fato. Só achava que seria melhor assim.

E seria, de fato. Já que sou simpatizante do anarquismo, como vocês já sabem, e ambos são sinônimos. Mas seria perfeito. E é aí que está o problema: não somos perfeitos. O óbvio do óbvio, mas que, no final, todo filósofo acaba deixando passar em suas teorias. Talvez, no caso de Marx, ele não tenha pensado nisso por ter reduzido o ser humano às relações de trabalho. Assim, mudam-se essas relações, mudam-se os humanos. Mas não somos só isso. E, então, vemos o que aconteceu nos países em que o socialismo foi implantado: ditadura.

Por outro lado, talvez o capitalismo funcione tão bem exatamente porque trabalha em cima do que há de pior em nós. Assim, vivemos numa relação perniciosa de troca, como um vírus em um hospedeiro, ou como fazemos com nossos vícios: sabemos que é algo ruim, mas no dá algo em troca que faz a relação tornar-se suportável, às vezes até agradável. Só não pensamos que, futuramente, um preço será cobrado de nós. E esse dia está chegando.
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P.S.: Estou com outro projeto de blog, chamado Assim Postou Zaratustra. É puxado mais pro lado irônico e sarcástico, mesmo que o aspecto crítico continue. Visitem: http://assimpostouzaratustra.blogspot.com/

7 comentários:

SD disse...

Aonde você leu que Marx acreditava que o socialismo poderia ser "menos pior", que a sociedade comunista seria melhor??? Se você interpretou isso, você interpretou errado, meu caro!!!!

Aline Deaba disse...

Se você prestar atenção no texto, na parte que eu menciono isso eu começo com "tenho a impressão", o que significa que é uma opinião pessoal. Básico pra quem quer dizer qualquer coisa sobre interpretação, hehehe.
Além do mais, Marx era ABSOLUTAMENTE CONTRA o Estado. Para ele, o Estado é algo NOCIVO ao homem, pensamento que ele pega emprestado de Rousseau. E, como qualquer um sabe minimamente, a fase socialista em Marx é uma fase transitória entre uma sociedade capitalista e uma sociedade comunista (ou seja, sem Estado). Daí então a minha impressão de que ele achava o socialismo "menos pior" do que o capitalismo (óbvio, senão ele não tentaria mudar a ideologia vigente, e não criaria uma de transição) e que a sociedade comunista seria melhor, senão ele não teria escrito que o melhor para o homem é a ausência do Estado. Duh.

Anônimo disse...

Como é duro ser niilista!!

Anônimo disse...

Como papai noel já dizia: A religião é o ópio do povo!

Aline Deaba disse...

Huahuauhauhahuauh. É o que dá mexer com a religião, né... Como diria Dr. House: a religião é o placebo das massas!

Madame Morte disse...

Filosofias utópicas e fracassadas,de boas intenções,o inferno tá cheio.

Viver do jeito menos pior não é a única e melhor alternativa,mas mudar drásticamente um costume antigo não causa nada além de confusão.Discordo do comunismo principalmente no que diz à igualdade em vários aspectos.Ninguém é igual,e ninguém gostaria de ser comparado.Seria um médico que salva vidas igual à um assassino?E o velho exemplo de sempre;"O médico e o gari".Os dois são pilares da sociedade,não há razão pra desvalorizar um ou outro.

Quanto mais temos,mais desejamos,e esse reflexo monstruoso do ser humano é maior que qualquer sistema político economico.

Picco disse...

Você já percebeu que as pessoas tentam resolver um problema complexo de forma mais simples possível como culpar coisas como religião, não que eu seja religioso ou a favor, na verdade sou ateu, acho que o que falta nas pessoas tanto nas que leram Marx quanto nas que criticam quem leram é uma coisa que está desaparecendo, ou melhor, mudando que é a personalidade, pessoas que falam que tem não têm e pessoas que tem são isoladas do resto por não terem medo de falar a verdade.
Pessoas que se dizem intelectuais só sabem criticar, na hora de dar a cara a bater desaparecem. Onde está a personalidade?