13 janeiro 2009

O homem e a tecnologia


Domingo fui no cinema ver O dia em que a Terra parou, um remake do filme clássico de 1951 que, por sua vez, foi baseado num conto de Harry Bates, chamado Farewell to the Master. O filme é ótimo, apesar de eu ser um pouco suspeita para falar sobre ficção científica, um dos meus gêneros de filme/livros preferidos. E, claro, essa preferência tem uma razão.

Eu tenho um gosto natural por aquilo que é científico, mas esse não é o maior motivo que me faz gostar de ficção científica, e sim a constante crítica que os autores deste gênero fazem à espécie humana. Eu já ia fazer um post qui no blog falando sobre esse assunto, mas me esqueci. O filme me ajudou a lembrar, e eu aproveitarei e farei referências à ele pra utilizar como exemplos.

De uma forma bem geral, o filme conta a história do alienígena Klaatu e de seu robô Gort, que vêm à Terra para salvá-la. Para salvá-la de nós, os seres humanos, mais especificamente. Algumas passagens me chamaram a atenção, por falarem de um assunto que me anda rodeando a cabeça ultimamente: o homem e a tecnologia.

Logo que Klaatu, após ser atingido por um soldado, é levado ao hospital do governo estadudinense e recupera-se, recebe a visita da Secretária de Estado dos EUA, interrogando-o sobre o motivo dele ter invadido o "nosso planeta". Deste primeiro contato, Klaatu já percebe toda a arrogância do homem em tratar a Terra como unicamente sua - e não de todas as espécies de seres vivos que aqui residem.

Outro momento que eu particularmente gosto muito, é quando Klaatu, fugindo do governo juntamente com a Dra. Helen Benson, argumenta com um professor Prêmio Nobel em Biologia Altruísta. Os terrestres estão tentando convecê-lo a não eliminar os seres humanos, quando o professor pergunta-o se as civilizações extraterrestres que ele representa não poderiam ensinar ao homem um tecnologia que fosse capaz de mudá-lo, fazer com que ele deixe de ser auto-destrutivo. Klaatu então, vira para ele, e diz: mas o problema de vocês não é a tecnologia.

E é por aí que eu ando refletindo... Tenho há muito tempo dentro de mim uma ânsia de ser cientista, especialmente na área da física - sou simplesmente fascinada pelas teorias que descrevem, o melhor possível, nosso universo. Mas ultimamente me indago: e se descobrissem algo muito, muito foda demais, e utilizassem esse conhecimento na indústria bélica, ou para lucrar, como normalmente ocorre atualmente? Qual é a parcela de culpa do cientista que descobriu e divulgou sua descoberta? Porque não refletimos mais a respeito daquilo que iremos fazer com o que descobrimos, e não ficamos apenas com a ânsia do descobrir, do querer obter o conhecimento de como as coisas supostamente são, sem pensar em suas consequências?

É nesse tipo de reflexão que vejo como a Filosofia se distanciou demais da ciência, deixando-a órfã. O cientista não pensa na consequência de suas descobertas... Mas por outro lado vem a pergunta: será que ele teria o direito de negar o conhecimento à humanidade? Deveria esperar um maior desenvolvimento ético do ser humano? Se sim, quem decidiria qual o nível ético apropriado? Quem daria esse tipo de instrução?

É um assunto bastante complexo, que deve ser discutido ampla e profundamente.

3 comentários:

Anônimo disse...

J. Lovelock é um dos críticos mais assíduos do antropocentrismo, como diz ele: "nosso progresso moral não acompanhou nosso progresso tecnológico".
A partir do momento que o homem se viu no auge de uma suposta hierarquia, isso bem antes da ciência, olhou para o mundo não de uam form,a integralista e sim discriminatória.
A inteligência fez com que o homem criasse Deus e fundamentasse sua figura derivando desta, ai começou a merda... Temos de entender que o homem não é divino e sim apenas uma ínfema das partes de uma rede de sistemas.

Rodrigo Queiroz disse...

Salve Aline, gosto deste blog de vcs e li com este post com uma surpresa: "quero ser cientista". Colega, você manda bem na Filosofia e que bem sabemos é Ciência. Não vamos entrar na onda de criar nada, vamos ferrar criticamente com o que inventam, kkkk.
Brincadeiras a parte, vim aqui deixar um abraço e dizer que este filme me remeteu a uma série de reflexões também, mas como cada louco com seus devaneios eu fiz um paralelo com a Umbanda, kkk e escrevi um artigo. É pra acabar mesmo...
Grande abraço...
Ah! Ia me esquecendo... vc tem notícias se o Ari (stóteles) achou a tal substância que ele tanto procura?

Picco disse...

"Porque não refletimos mais a respeito daquilo que iremos fazer com o que descobrimos", porque normalmente quem finacia as pesquisas são pessoas gananciosas, os cientistas não tem opção senão entrar nessa ilusão de descobrir para o bem da humanidade que é o que na verdade eles tentam fazer. Aí entra o tema do outro post, as coisas tem que ser desenvolvidas o mais rápido possível.