Segundo Platão, a Filosofia é uma preparação para a morte, isso porque com o auxílio da sabedoria o filósofo pode olhar para morte de uma forma tranqüila e não se agonizar perante o eminente fim que todos iremos atingir.
A sabedoria comum enfatiza que a única certeza que temos na vida é o fim de nossa existência, a partir disso, esta idéia é tida com um gigantesco potencial de transcendência, ou seja, a partir da idéia de morte diversas culturas elaboram construções culturais, artísticas, religiosas e filosóficas. Dentre esses diversos “ambientes” vimos surgir as mais diferentes interpretações em relação à finitude existencial.
A morte em uma perspectiva tribal
Nas primeiras sociedades a morte e tida como algo normal e reverenciadodevido ao aspecto da coletividade dos povos primórdios, o espírito de coletividade que existia nas tribos fazia com que os homens louvassem a morte, o morrer era visto como um transportar para o mundo dos mortos.
Vários povos faziam rituais para se comunicar com a “sociedade dos mortos”, nessas sociedades era freqüente o número de sacrifícios para agradar deuses e salvar toda a tribo.
A morte em uma perspectiva mítica.
Nos mitos a relação com a morte é quase que constante tanto objetiva e subjetivamente. Constantemente a salvação depende de sacrifícios e a morte e encarada em uma perspectiva totalmente diferente do que a vemos hoje.
A paixão de Cristo é um exemplo de como o herói no mito tem de enfrentar a morte para cumprir sua meta como herói, todo o sangue derramado, a crucificação, a dor e o sacrifício são vistos como a morte do individuo para a vida do coletivo.
No mito grego do deus Dionísio, ele é dilacerado por titãs e ressuscitado graças ao seu coração que foi salvo pela deusa Atena, sua morte seguida de sua ressurreição mostra o ciclo da vida de acordo com uma perspectiva órfica, onde a alma do ser (coração) continua, e o corpo sempre se renova.
A morte dentro do mito nos faz refletir como a sua interpretação foi mudando de acordo com cada cultura. Mas ela sempre esteve presente sob uma forma de sacrifício do individuo para a salvação do coletivo.
A morte no Orfismo.
A primeira religião ocidental que atribui à morte um caráter dualista é o Orfismo, essa religião que foi criada por Orfeu, concebia a morte como a finitude do corpo físico, porém o espírito é eterno e continua “migrando” de um corpo para ao outro, para se redimir de uma culpa originária. Segundo o orfismo o único jeito para escapar dessa seqüência de transmigrações, era através dos rituais órficos, que purificavam a alma. O orfismo teve notável influência na Filosofia de Platão.
A morte para Sócrates
No livro Fédon de Platão, Sócrates se tranqüiliza diante da morte enquanto seus companheiros e amigos ficam em um sentimento “desesperador”, não se sabe autênticamente o que é a Filosofia de Platão e o que realmente foi dito por Sócrates, porém tal concepção é possuidora de uma visão dualista e totalmente racional.
“E estareis de acordo comigo se acrescentardes a esta última prova aquelas que eu apresentei a respeito de que tudo o que vive nasce daquilo que está morto. Porque se é certo que nossa alma existe antes de nascermos, e se é preciso que ao surgir para a vida , ela saia por assim dizer, do seio da morte, como poderá existir após a morte , já que deve regressar à vida?” (Platão, 1999. pág. 22)
Sócrates afirma que a filosofia é uma preparação para a morte, pois a morte não é o fim, mas sim o começo de um novo ciclo para a alma do homem, está que tem parte essencial na constituição da pessoa. Ou seja, enquanto o corpo morre a alma transmigra para outra, levando consigo o conhecimento, por isso tanto no pensamento Socrático quanto no pensamento Platônico a Filosofia tem um papel fundamental, pois esta torna a alma mais sábia e com isso faz com que nas outras vidas o homem seja virtuoso, afinal a Filosofia na Grécia é sinônimo de uma vida virtuosa.
Tal pensamento faz com que Sócrates mantenha uma atitude puramente racional diante da morte, o que faz com que a vida não seja temida e levada com certo desdém pelo filósofo. O filósofo Friedrich Nietzsche, no século XIX, ridiculariza Sócrates e o chama de pessimista e covarde, pois supostamente, o filósofo deixou-se morrer não se importando com a vida e fazendo referência a um galo que ele devia a seu amigo.
A morte para Epicuro
Com a ascensão de Alexandre ao poder, toda supremacia grega aparece ter entrado em certo declínio e com isso todo racionalismo proposto pelos grandes filósofos também foram de certa forma ofuscados, com isso entrou em vigor várias escolas que tentaram reinterpretar a Filosofia e abordar um lado mais existencial. Uma dessas escolas foi o Epicurismo.
O filósofo de maior impacto (como o nome já diz) foi Epicuro, 341 – 270 a.C. O pensador fez de sua Filosofia uma forma de viver uma vida sem temor e baseada em um prazer necessário a sobrevivência.
Ao falar sobre a morte, o Epicurismo tenta se desvencilhar de qualquer conforto ou vida póstuma, adotam uma perspectiva materialista e atéia. A morte é um mal só para que se nutre de falsas opiniões sobre ela, pois ao morrer a consciência já não existe, ou seja, a morte não é pavorosa em si, pois quando ela chega nós já não sentimos nada. Nossos átomos de dissociam e deixamos de ser aquilo que éramos. Epicuro também fala que ao imaginar a morte só podemos imaginá-la em terceira pessoa, pois está além de qualquer sentido.
A morte na idade média
Na idade média com a supremacia do Cristianismo, criou-se uma nova visão para a morte, o bom cristão que seguia os dogmas católicos teria salvação eterna, se encontraria com Deus e teria na ressurreição a vida perfeita. Porém as pessoas que eram hereges ou pecavam e não se redimiam, eram condenadas ao inferno, onde o sofrimento é eterno, o inferno na perspectiva cristã é representado pelo fogo e habitado por Lúcifer e os outros anjos decaídos.
O homem acreditava na ressurreição do corpo e para muitos o pós-morte não era temido, pois era a chance de se encontrar com Deus.
“Melhor é a boa fama do que o melhor ungüento, e o dia da morte do que o dia do nascimento de alguém.
Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.
Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.” (Eclesiastes, Capítulo 7)
Curiosamente na idade média o morto era posto na sala da casa, crianças e familiares conviviam com ele e davam seu ultimo adeus. A esposa guardava luto e cabia a ela a tarefa de lamentar-se diante do morto. Nesta época existia um respeito muito maior pelo morto do que o existente hoje.
Foi nessa época que começou a relacionar-se a morte com uma caveira de preto.
A morte para Arthur Schopenhauer
O Filósofo Arthur Schopenhauer foi outro pensador que tentou fez da morte um sistema de sua Filosofia. O filósofo alemão tem grande influência do Budismo, do Platonismo e do Kantismo.
Em seu famoso livro O Mundo como vontade e representação, o filósofo alemão destina uma parte para analisar a morte e sua suposta limitação. Schopenhauer parte do princípio de Sócrates ao dizer que a Filosofia é a preparação da morte, tal opinião é formada, pois o conhecimento que advém da indagação filosófica faz com que a pessoa aceite seu fim de uma forma tranqüila e racional.
Segundo o filósofo, o temor da morte advém da vontade incessante de viver a vida, ou seja, o instinto que os animais possuem para proteger sua vida e manter sua espécie. Tal vontade é determinada importância na preservação da espécie.
Em relação à natureza, a morte não faz sentido, pois está não leva em consideração a singularidade. Por exemplo: A morte de um leão não afeta em nada a espécie dos leões, até porque praticamente todos os leões desempenham papéis praticamente iguais na biodiversidade da natureza. Neste trecho é notável a influência do pensamento Oriental propagado por Buda há 2500 anos atrás.
Porém ao longo da história foi se tornando cada vez mais individualista e isso fez com que se afastasse de tal idéia e começasse a temer sua finitude. Com isso o homem criou vidas ulteriores para amenizar o pesado fardo da morte, nesta parte Schopenhauer faz uma referência ao Cristianismo que utiliza a promessa de reencarnação.
“O indivíduo vitimado pelas angústias da morte nos oferece um espetáculo verdadeiramente estranho e até mesmo risível[...] é ele, no entanto, que sofre e se desespera com o medo da morte, uma vez que fica sob influência daquela ilusão produzida pelo princípio individual [...] Essa ilusão faz parte do sonho opressivo, no qual ele mergulhou enquanto vontade de vida” (SCHOPENHAUER, 2003. pág. 67)
A morte representa o egoísmo do ser humano personificado, enquanto para a natureza ela é necessária, como uma renovação da espécie e da biodiversidade, a morte é a perda de uma individualidade e a obtenção de uma outra [IDEM, 2003. Pág.69].
A convivência coma morte é essencial para que este viva uma vida digna, nas palavras do filósofo, pois a morte é a coisa mais natural da vida e é o meio que a natureza tem para se livrar e “reciclar-se”. Porém o homem é egoísta e tenta evitar a morte a todo custo, contudo Schopenhauer rebate tal idéia enfatizando que se existisse a eternidade o homem aclamaria para a vinda da morte.
É possível analisar a tendência ao budismo no pensamento deste filósofo principalmente quando ele se refere à reencarnação, porém ele se afasta da metempsicose e afirma que não é o eu em si que transmigra de corpo em corpo e sim a essência do homem , ou seja, a vontade.
.
“Em geral, a morte de todo homem de bem pé doce e tranqüila, mas morrer sem má vontade, voluntariamente, morrer satisfeito, é privilégio do homem resignado, daquele que renuncia à vontade de vida: pois ele só quer uma morte real” (IDEM, 2003. Pág. 74).
A morte na perspectiva de Sören Kierkegaard
Sören Kierkegaard é considerado por muitos o pai do Existencialismo, tal doutrina consiste no estudo da existência do homem e todas as manifestações que ela apresenta. Tais como a angústia, o desespero, a liberdade, a espiritualidade e inclusive a morte.
O filósofo dinamarquês fez um grande estudo sobre a pessoa humana e a subjetividade sempre ressaltando seu lado espiritual cristão.
Na filosofia de Kierkegaard, o homem é formado principalmente por seu espírito e este é a dimensão de Deus no homem. Para que o homem tenha uma vida feliz e livre de desespero, tem de se buscar aproximar-se de Deus e de seu espírito.
O desespero advém de quando o homem d se afasta desta dimensão e isso acarreta a angústia e o desejo da morte. Porém Sören não concebe a morte como o fim e sim um recomeço, portanto a morte só é vista como boa para o cristão, que se encontra com Deus. Para aquele que está desesperado a morte é o prolongamento e a infinitude do desespero.
“O desespero é doença mortal: ‘eterno morrer sem, no entanto não morrer’; ‘autodestruição impotente’. Do ponto de vista cristão a morte é sequer é doença mortal, muito menos qualquer sofrimento terreno e temporal. A morte pode ser o fim da doença, porém na perspectiva cristã não significa o fim, por isso quando o homem clama pela morte desesperadamente, mal sabe que aquele não é o seu fim.” (REALE, 2005. Pág. 247).
Para Kierkegaard, quando o desespero aparece no homem, de certa forma o eu (a dimensão espiritual) já está morta. E o homem só se livra desse desespero acolhendo a Deus e consecutivamente se descobre eliminando toda angústia em sua vida.
A morte para Martin Heidegger
O filósofo alemão Martin Heidegger foi um dos grandes fundamentadores do Existencialismo. Apesar disso negou todo rótulo que o aproximasse de tal definição. Sua problemática principal foi à questão do ser e a questão do ente.
A princípio sua Filosofia crítica toda a concepção que denomina o ser como ente. Para ele está é uma confusão propagada ao longo de toda história da Filosofia Ocidental. O Ente é a existência em si, enquanto o ser é aquilo que determina o modo de ser ou essência do homem.
Em sua Obra O ser e o tempo, Heidegger analisa o sentido do ser a partir do que nós homens somos. O filósofo cria toda uma terminologia a se referir ao homem, este se chama Dasein (o ser-aí).
O Dasein é o único ser que tem a possibilidade de analisar e refletir sobre sua existência, é um ser lançado no mundo e que possibilita através de sua existência através dos projetos para desenvolver sua existência, ou seja, quando o homem constrói um projeto de sua existência.
O homem é o único ser que interroga sobre seu sentido, por isso não pode ser reduzido a um simples objeto. Ao ser lançado no mundo, o homem tem sua dimensão ofuscada pelos outros, o que pode prejudicar seu projeto de existência. Com isso o homem está venerável a angústia, que é a perca do eu e o abandono do projeto particular diante das situações adversas que conflitam com o Dasein.
O homem tem infinitas possibilidades de projetos para a sua vida, porém existe uma possibilidade que pode impossibilitar ou por fim em todos os projetos do homem: A morte. A morte é a única possibilidade certa na no decorrer da vida de todo Dasein.
Heidegger vem dizer que o homem sente angústia perante a morte devido ao inesperado que é o não ser. Porém o homem para se sentir confortável perante seus projetos e suas escolhas deve ter consciência e se familiarizar com a morte:
“Existir autenticamente implica ter a coragem de olhar de frente a possibilidade do próprio não ser, de sentir a angústia do ser-para-a-morte. A existência autêntica significa a aceitação da própria finitude” (REALE, ANTISERI. 2005, Pág. 588)
No estudo Heideggeriano, a morte tem um papel fundamental, pois ela é a completude das possibilidades do Dasein, porém esta visão foi contestada por outro existencialista famoso: Jean Paul Sartre.
A morte na perspectiva de Jean Paul Sartre
Sartre nasceu em Paris, foi um teatrólogo de muito sucesso, o que faz ser um dos filósofos mais conhecidos de nosso tempo. O filósofo francês é considerado por muitos, o que mais elevou o nome do existencialismo.
Na Filosofia Sartreana, o homem se constrói a medida de suas vivências, daí a famosa frase que Sartre usa em seu famoso ensaio “A existência precede a essência”, isso para o filósofo quer dizer que o homem é o artífice de seu existir.
O homem nasce sem uma essência pré-definida, logo o homem quando nasce, nasce nada. Ou seja, não tem nenhuma tendência ou inclinação projetada por algum Deus ou pro algum mecanismo (podemos encaixar aqui a crítica Sartreana a Psicanálise Freudiana). O homem é livre para tudo, a única coisa que ele não pode se libertar é de sua liberdade, o que soa contraditório, “estamos condenados a ser livres”.
A vida para Sartre não tem um sentido propriamente dito, isso acarretou em muitas críticas ao existencialismo, pois foi considerado frio e sombrio. Porém o autor rebate que tal doutrina é composta de exacerbado otimismo.
“São estas as pessoas que acusam o existencialismo de ser demasiado sombrio, a tal ponto que eu me pergunto se elas não o censuram, não tanto pelo seu pessimismo, mas, justamente pelo seu otimismo. Será que, no fundo, o que amedronta na doutrina que tentarei expor não é fato de que ela deixa uma possibilidade de escolha para o homem?” (SARTRE, 2002).
Na perspectiva Sartreana, a morte vem para confirmar a falta de sentido da vida, pois esta desconstrói tudo aquilo que o homem edifica em sua existência. Ou seja, se em minha existência consigo as fama por escrever um bom livro, posso morrer quando no dia em que eu conseguir um suposto prêmio pelo tal livro. Isso quer dizer que a morte veio e desconstruiu tudo aquilo que fiz reafirmando a falta de sentido que é a vida, e a quão absurda ela é.
Sartre crítica o ponto de vista de Heidegger, ao afirmar que não podemos nos preparar para a morte, pois esta é desprovida de sentido e pode vim a qualquer hora. Por exemplo: Estou com câncer e me preparo para uma possível morte em cerca de três meses, a caminho do hospital o motorista bate o carro e eu morro, toda expectativa sobre a morte se eximiu.
A sabedoria comum enfatiza que a única certeza que temos na vida é o fim de nossa existência, a partir disso, esta idéia é tida com um gigantesco potencial de transcendência, ou seja, a partir da idéia de morte diversas culturas elaboram construções culturais, artísticas, religiosas e filosóficas. Dentre esses diversos “ambientes” vimos surgir as mais diferentes interpretações em relação à finitude existencial.
A morte em uma perspectiva tribal
Nas primeiras sociedades a morte e tida como algo normal e reverenciadodevido ao aspecto da coletividade dos povos primórdios, o espírito de coletividade que existia nas tribos fazia com que os homens louvassem a morte, o morrer era visto como um transportar para o mundo dos mortos.
Vários povos faziam rituais para se comunicar com a “sociedade dos mortos”, nessas sociedades era freqüente o número de sacrifícios para agradar deuses e salvar toda a tribo.
A morte em uma perspectiva mítica.
Nos mitos a relação com a morte é quase que constante tanto objetiva e subjetivamente. Constantemente a salvação depende de sacrifícios e a morte e encarada em uma perspectiva totalmente diferente do que a vemos hoje.
A paixão de Cristo é um exemplo de como o herói no mito tem de enfrentar a morte para cumprir sua meta como herói, todo o sangue derramado, a crucificação, a dor e o sacrifício são vistos como a morte do individuo para a vida do coletivo.
No mito grego do deus Dionísio, ele é dilacerado por titãs e ressuscitado graças ao seu coração que foi salvo pela deusa Atena, sua morte seguida de sua ressurreição mostra o ciclo da vida de acordo com uma perspectiva órfica, onde a alma do ser (coração) continua, e o corpo sempre se renova.
A morte dentro do mito nos faz refletir como a sua interpretação foi mudando de acordo com cada cultura. Mas ela sempre esteve presente sob uma forma de sacrifício do individuo para a salvação do coletivo.
A morte no Orfismo.
A primeira religião ocidental que atribui à morte um caráter dualista é o Orfismo, essa religião que foi criada por Orfeu, concebia a morte como a finitude do corpo físico, porém o espírito é eterno e continua “migrando” de um corpo para ao outro, para se redimir de uma culpa originária. Segundo o orfismo o único jeito para escapar dessa seqüência de transmigrações, era através dos rituais órficos, que purificavam a alma. O orfismo teve notável influência na Filosofia de Platão.
A morte para Sócrates
No livro Fédon de Platão, Sócrates se tranqüiliza diante da morte enquanto seus companheiros e amigos ficam em um sentimento “desesperador”, não se sabe autênticamente o que é a Filosofia de Platão e o que realmente foi dito por Sócrates, porém tal concepção é possuidora de uma visão dualista e totalmente racional.
“E estareis de acordo comigo se acrescentardes a esta última prova aquelas que eu apresentei a respeito de que tudo o que vive nasce daquilo que está morto. Porque se é certo que nossa alma existe antes de nascermos, e se é preciso que ao surgir para a vida , ela saia por assim dizer, do seio da morte, como poderá existir após a morte , já que deve regressar à vida?” (Platão, 1999. pág. 22)
Sócrates afirma que a filosofia é uma preparação para a morte, pois a morte não é o fim, mas sim o começo de um novo ciclo para a alma do homem, está que tem parte essencial na constituição da pessoa. Ou seja, enquanto o corpo morre a alma transmigra para outra, levando consigo o conhecimento, por isso tanto no pensamento Socrático quanto no pensamento Platônico a Filosofia tem um papel fundamental, pois esta torna a alma mais sábia e com isso faz com que nas outras vidas o homem seja virtuoso, afinal a Filosofia na Grécia é sinônimo de uma vida virtuosa.
Tal pensamento faz com que Sócrates mantenha uma atitude puramente racional diante da morte, o que faz com que a vida não seja temida e levada com certo desdém pelo filósofo. O filósofo Friedrich Nietzsche, no século XIX, ridiculariza Sócrates e o chama de pessimista e covarde, pois supostamente, o filósofo deixou-se morrer não se importando com a vida e fazendo referência a um galo que ele devia a seu amigo.
A morte para Epicuro
Com a ascensão de Alexandre ao poder, toda supremacia grega aparece ter entrado em certo declínio e com isso todo racionalismo proposto pelos grandes filósofos também foram de certa forma ofuscados, com isso entrou em vigor várias escolas que tentaram reinterpretar a Filosofia e abordar um lado mais existencial. Uma dessas escolas foi o Epicurismo.
O filósofo de maior impacto (como o nome já diz) foi Epicuro, 341 – 270 a.C. O pensador fez de sua Filosofia uma forma de viver uma vida sem temor e baseada em um prazer necessário a sobrevivência.
Ao falar sobre a morte, o Epicurismo tenta se desvencilhar de qualquer conforto ou vida póstuma, adotam uma perspectiva materialista e atéia. A morte é um mal só para que se nutre de falsas opiniões sobre ela, pois ao morrer a consciência já não existe, ou seja, a morte não é pavorosa em si, pois quando ela chega nós já não sentimos nada. Nossos átomos de dissociam e deixamos de ser aquilo que éramos. Epicuro também fala que ao imaginar a morte só podemos imaginá-la em terceira pessoa, pois está além de qualquer sentido.
A morte na idade média
Na idade média com a supremacia do Cristianismo, criou-se uma nova visão para a morte, o bom cristão que seguia os dogmas católicos teria salvação eterna, se encontraria com Deus e teria na ressurreição a vida perfeita. Porém as pessoas que eram hereges ou pecavam e não se redimiam, eram condenadas ao inferno, onde o sofrimento é eterno, o inferno na perspectiva cristã é representado pelo fogo e habitado por Lúcifer e os outros anjos decaídos.
O homem acreditava na ressurreição do corpo e para muitos o pós-morte não era temido, pois era a chance de se encontrar com Deus.
“Melhor é a boa fama do que o melhor ungüento, e o dia da morte do que o dia do nascimento de alguém.
Melhor é ir à casa onde há luto do que ir à casa onde há banquete, porque naquela está o fim de todos os homens, e os vivos o aplicam ao seu coração.
Melhor é a mágoa do que o riso, porque com a tristeza do rosto se faz melhor o coração. O coração dos sábios está na casa do luto, mas o coração dos tolos na casa da alegria.” (Eclesiastes, Capítulo 7)
Curiosamente na idade média o morto era posto na sala da casa, crianças e familiares conviviam com ele e davam seu ultimo adeus. A esposa guardava luto e cabia a ela a tarefa de lamentar-se diante do morto. Nesta época existia um respeito muito maior pelo morto do que o existente hoje.
Foi nessa época que começou a relacionar-se a morte com uma caveira de preto.
A morte para Arthur Schopenhauer
O Filósofo Arthur Schopenhauer foi outro pensador que tentou fez da morte um sistema de sua Filosofia. O filósofo alemão tem grande influência do Budismo, do Platonismo e do Kantismo.
Em seu famoso livro O Mundo como vontade e representação, o filósofo alemão destina uma parte para analisar a morte e sua suposta limitação. Schopenhauer parte do princípio de Sócrates ao dizer que a Filosofia é a preparação da morte, tal opinião é formada, pois o conhecimento que advém da indagação filosófica faz com que a pessoa aceite seu fim de uma forma tranqüila e racional.
Segundo o filósofo, o temor da morte advém da vontade incessante de viver a vida, ou seja, o instinto que os animais possuem para proteger sua vida e manter sua espécie. Tal vontade é determinada importância na preservação da espécie.
Em relação à natureza, a morte não faz sentido, pois está não leva em consideração a singularidade. Por exemplo: A morte de um leão não afeta em nada a espécie dos leões, até porque praticamente todos os leões desempenham papéis praticamente iguais na biodiversidade da natureza. Neste trecho é notável a influência do pensamento Oriental propagado por Buda há 2500 anos atrás.
Porém ao longo da história foi se tornando cada vez mais individualista e isso fez com que se afastasse de tal idéia e começasse a temer sua finitude. Com isso o homem criou vidas ulteriores para amenizar o pesado fardo da morte, nesta parte Schopenhauer faz uma referência ao Cristianismo que utiliza a promessa de reencarnação.
“O indivíduo vitimado pelas angústias da morte nos oferece um espetáculo verdadeiramente estranho e até mesmo risível[...] é ele, no entanto, que sofre e se desespera com o medo da morte, uma vez que fica sob influência daquela ilusão produzida pelo princípio individual [...] Essa ilusão faz parte do sonho opressivo, no qual ele mergulhou enquanto vontade de vida” (SCHOPENHAUER, 2003. pág. 67)
A morte representa o egoísmo do ser humano personificado, enquanto para a natureza ela é necessária, como uma renovação da espécie e da biodiversidade, a morte é a perda de uma individualidade e a obtenção de uma outra [IDEM, 2003. Pág.69].
A convivência coma morte é essencial para que este viva uma vida digna, nas palavras do filósofo, pois a morte é a coisa mais natural da vida e é o meio que a natureza tem para se livrar e “reciclar-se”. Porém o homem é egoísta e tenta evitar a morte a todo custo, contudo Schopenhauer rebate tal idéia enfatizando que se existisse a eternidade o homem aclamaria para a vinda da morte.
É possível analisar a tendência ao budismo no pensamento deste filósofo principalmente quando ele se refere à reencarnação, porém ele se afasta da metempsicose e afirma que não é o eu em si que transmigra de corpo em corpo e sim a essência do homem , ou seja, a vontade.
.
“Em geral, a morte de todo homem de bem pé doce e tranqüila, mas morrer sem má vontade, voluntariamente, morrer satisfeito, é privilégio do homem resignado, daquele que renuncia à vontade de vida: pois ele só quer uma morte real” (IDEM, 2003. Pág. 74).
A morte na perspectiva de Sören Kierkegaard
Sören Kierkegaard é considerado por muitos o pai do Existencialismo, tal doutrina consiste no estudo da existência do homem e todas as manifestações que ela apresenta. Tais como a angústia, o desespero, a liberdade, a espiritualidade e inclusive a morte.
O filósofo dinamarquês fez um grande estudo sobre a pessoa humana e a subjetividade sempre ressaltando seu lado espiritual cristão.
Na filosofia de Kierkegaard, o homem é formado principalmente por seu espírito e este é a dimensão de Deus no homem. Para que o homem tenha uma vida feliz e livre de desespero, tem de se buscar aproximar-se de Deus e de seu espírito.
O desespero advém de quando o homem d se afasta desta dimensão e isso acarreta a angústia e o desejo da morte. Porém Sören não concebe a morte como o fim e sim um recomeço, portanto a morte só é vista como boa para o cristão, que se encontra com Deus. Para aquele que está desesperado a morte é o prolongamento e a infinitude do desespero.
“O desespero é doença mortal: ‘eterno morrer sem, no entanto não morrer’; ‘autodestruição impotente’. Do ponto de vista cristão a morte é sequer é doença mortal, muito menos qualquer sofrimento terreno e temporal. A morte pode ser o fim da doença, porém na perspectiva cristã não significa o fim, por isso quando o homem clama pela morte desesperadamente, mal sabe que aquele não é o seu fim.” (REALE, 2005. Pág. 247).
Para Kierkegaard, quando o desespero aparece no homem, de certa forma o eu (a dimensão espiritual) já está morta. E o homem só se livra desse desespero acolhendo a Deus e consecutivamente se descobre eliminando toda angústia em sua vida.
A morte para Martin Heidegger
O filósofo alemão Martin Heidegger foi um dos grandes fundamentadores do Existencialismo. Apesar disso negou todo rótulo que o aproximasse de tal definição. Sua problemática principal foi à questão do ser e a questão do ente.
A princípio sua Filosofia crítica toda a concepção que denomina o ser como ente. Para ele está é uma confusão propagada ao longo de toda história da Filosofia Ocidental. O Ente é a existência em si, enquanto o ser é aquilo que determina o modo de ser ou essência do homem.
Em sua Obra O ser e o tempo, Heidegger analisa o sentido do ser a partir do que nós homens somos. O filósofo cria toda uma terminologia a se referir ao homem, este se chama Dasein (o ser-aí).
O Dasein é o único ser que tem a possibilidade de analisar e refletir sobre sua existência, é um ser lançado no mundo e que possibilita através de sua existência através dos projetos para desenvolver sua existência, ou seja, quando o homem constrói um projeto de sua existência.
O homem é o único ser que interroga sobre seu sentido, por isso não pode ser reduzido a um simples objeto. Ao ser lançado no mundo, o homem tem sua dimensão ofuscada pelos outros, o que pode prejudicar seu projeto de existência. Com isso o homem está venerável a angústia, que é a perca do eu e o abandono do projeto particular diante das situações adversas que conflitam com o Dasein.
O homem tem infinitas possibilidades de projetos para a sua vida, porém existe uma possibilidade que pode impossibilitar ou por fim em todos os projetos do homem: A morte. A morte é a única possibilidade certa na no decorrer da vida de todo Dasein.
Heidegger vem dizer que o homem sente angústia perante a morte devido ao inesperado que é o não ser. Porém o homem para se sentir confortável perante seus projetos e suas escolhas deve ter consciência e se familiarizar com a morte:
“Existir autenticamente implica ter a coragem de olhar de frente a possibilidade do próprio não ser, de sentir a angústia do ser-para-a-morte. A existência autêntica significa a aceitação da própria finitude” (REALE, ANTISERI. 2005, Pág. 588)
No estudo Heideggeriano, a morte tem um papel fundamental, pois ela é a completude das possibilidades do Dasein, porém esta visão foi contestada por outro existencialista famoso: Jean Paul Sartre.
A morte na perspectiva de Jean Paul Sartre
Sartre nasceu em Paris, foi um teatrólogo de muito sucesso, o que faz ser um dos filósofos mais conhecidos de nosso tempo. O filósofo francês é considerado por muitos, o que mais elevou o nome do existencialismo.
Na Filosofia Sartreana, o homem se constrói a medida de suas vivências, daí a famosa frase que Sartre usa em seu famoso ensaio “A existência precede a essência”, isso para o filósofo quer dizer que o homem é o artífice de seu existir.
O homem nasce sem uma essência pré-definida, logo o homem quando nasce, nasce nada. Ou seja, não tem nenhuma tendência ou inclinação projetada por algum Deus ou pro algum mecanismo (podemos encaixar aqui a crítica Sartreana a Psicanálise Freudiana). O homem é livre para tudo, a única coisa que ele não pode se libertar é de sua liberdade, o que soa contraditório, “estamos condenados a ser livres”.
A vida para Sartre não tem um sentido propriamente dito, isso acarretou em muitas críticas ao existencialismo, pois foi considerado frio e sombrio. Porém o autor rebate que tal doutrina é composta de exacerbado otimismo.
“São estas as pessoas que acusam o existencialismo de ser demasiado sombrio, a tal ponto que eu me pergunto se elas não o censuram, não tanto pelo seu pessimismo, mas, justamente pelo seu otimismo. Será que, no fundo, o que amedronta na doutrina que tentarei expor não é fato de que ela deixa uma possibilidade de escolha para o homem?” (SARTRE, 2002).
Na perspectiva Sartreana, a morte vem para confirmar a falta de sentido da vida, pois esta desconstrói tudo aquilo que o homem edifica em sua existência. Ou seja, se em minha existência consigo as fama por escrever um bom livro, posso morrer quando no dia em que eu conseguir um suposto prêmio pelo tal livro. Isso quer dizer que a morte veio e desconstruiu tudo aquilo que fiz reafirmando a falta de sentido que é a vida, e a quão absurda ela é.
Sartre crítica o ponto de vista de Heidegger, ao afirmar que não podemos nos preparar para a morte, pois esta é desprovida de sentido e pode vim a qualquer hora. Por exemplo: Estou com câncer e me preparo para uma possível morte em cerca de três meses, a caminho do hospital o motorista bate o carro e eu morro, toda expectativa sobre a morte se eximiu.
2 comentários:
Felipe, você esqueceu de colocar as refrências do que você citou no final do texto
AH FIQUEI COM PREGUIÇA...RS
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